Quando fui convidado a contribuir para o blog “Uma Nova
Casa”, a primeira pergunta que fiz foi sobre o que poderia escrever para o
blog. Não com muita surpresa a dona da casa – agora já com dois novos
inquilinos – se virou e me sorriu um afável “qualquer coisa”. Munindo o bom
senso, decidi fazer aquela primeira sondagem. Aquela visita ao seu possível
futuro imóvel, com direito a script e ritual que, com as especificidades de
cada caso caminha mais ou menos assim: olhares desconfiados dos porteiros, um
sorriso do tamanho do mundo dos corretores (com direito ao zelador como
volante) e, nunca nos esqueçamos, a roleta russa dos vizinhos. Foi apenas com
esse momento expedicionário é que, pouco a pouco tenho compreendido a que o
simpático “qualquer coisa” tem se reportado afinal. Não é, e nunca houve
dúvidas quanto a isso, a um desleixo quanto a produção postada. Também não diz
respeito a uma leitura positiva e ressequida, rachada pela tão louvada (e tão
mal utilizada) “imparcialidade” jornalística. Muito menos foi uma proposta a
evasão hipertônica adolescente, como a anfitriã deixou aparente em seu primeiro
post.
Muito
mais do que um convite a um “vamos escrever um blog”, fomos convidados –
autores e leitores – a partilhar do que o filósofo nacional Mário Sérgio
Cortella chama de “pamonhização das relações” que aqui – espero conseguirmos –
se estende para todo aquele que se permita adentrar, ouvir e se fazer ouvir; a
construir os laços de diálogo e afetividade que são fundamentais a qualquer relacionamento
no qual nos engajemos com o outro. É um convite, sobretudo, a sentar na mesa da
sala, cozinha, ou quarto e familiarmente se predispor a se expor enquanto
indivíduo e pessoa integrante das mais variadas sociedades.
Dadas essas
observações vem a pergunta: e sobre o que uma família pode conversar, afinal?
Em minha experiência pessoal, nem mais e nem menos do que este blog se propõe:
tudo e todos. Da rede de trânsito da cidade de Belém – que parece continuar
firme em sua tentativa de figurar como avatar do modelo indiano à questões
ligadas aos mais diversos direitos, a imprescindível presença das artes
enquanto elementos instigadores de reflexão dialética em nossas vidas e o
parecer de todos aqueles que se permitirem participar e contribuir argumentando,
brigando, concordando e, acima de tudo, convivendo conosco nos mais diversos
cômodos da casa. Convidados fomos, autores e leitores, a nos expormos, a
sonhar, a construir o presente e o futuro, o nosso futuro social e pessoal em
cada debate, a cada sopro de poesia e nos inúmeros erros e acertos que nossa
sociedade nacional-global enfrenta no cotidiano, mas que raramente se permite
efetivamente ouvir e pensarem conjunto soluções e causas para o sonhado
“desenvolvimento humano” em seus mais amplos sentidos.
Por fim, já
assinei o contrato e cá estou de malas e cuias, pronto pra discutir, me
indignar, surpreender e bem querer aos que comigo se comprometerem a fazer mais
do que sobreviver, suportar e se conformar com o outro, com a nossa realidade e
com as limitações tênues do eu e do nós. Espero recebe-los em breve em nossa
casa, a qual anseio que também vá se tornando sua para zelar e contribuir
“Sangrando”, como bem diz a música.