sábado, 29 de março de 2014

Sobre homens e bebidas, grande Bukowski

“Francine virou-se para ele e ele passou o braço em torno dela. Os bêbados das três horas da manhã, em todos os Estados Unidos, fitavam as paredes, depois de terem finalmente desistido. Não era preciso ser bêbado para se machucar, para cair sob a mira de uma mulher; mas a gente podia se machucar e se tornar um bêbado. Você podia pensar por algum tempo, sobre tudo quando era jovem, que estava com sorte, e às vezes estava mesmo. Mas havia todo tipo de médias e leis em ação das quais você nada sabia, mesmo quando imaginava que tudo ia indo bem. Uma noite, uma quente noite veranil de quinta-feira, você se tornava o bêbado, você estava lá fora sozinho num quarto de aluguel barato, e por mais que tivesse visto isso antes, não adiantava, era até pior, porque você tinha pensado que não teria de enfrentar aquilo de novo. A única coisa que podia fazer era acender mais um cigarro, servir outra bebida, examinar as paredes descascadas em busca de olhos e lábios. O que homens e mulheres se faziam uns aos outros estava além da compreensão.”



Mas a verdade é que a alma humana é carregada de muitos mistérios, e que as vezes são esses momentos de melancolia e de tristeza, onde muitos se entregam ao vicio e a sensação enebriante e anestesiante de um porre, que muitos se descobrem. 
Qualquer um em qualquer momento pode se ver em tal situação, e isso explica porque tenho certa empatia pelas pessoas que se encontram abandonadas a si mesmo... Seria deveras interessante explorar suas mentes, seus sentimentos, e o que as levaram a ficar assim. 

Porque "examinar as paredes descascadas" as vezes pode estar muito além do reles alienado entendimento humano. Ao ler esse trecho do Bukowski, muito mais que o vício representado, me veio essa imagem de pessoas internamente abandonadas e solitárias, talvez em busca de si, talvez de algo além, onde o álcool, mas que um algo podre em suas vidas, representa uma tentativa de ferramenta, fuga ou até de chama atenção.

Assim, Bukowski ganha meu respeito.

Do dia, poesia



Eu vivo da poesia
Tao rara, tao pequena nos dias
De pouco me alimento

Eu respiro na poesia
A dor, amor, alegrias
Aquém, diastantes e lindas

A poesia, por fim, sou eu
Um nada em tudo resume
Poemas e linhas disformes 
Que a vida as vezes assume.