terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Justiça com as próprias mãos





Este texto não é de minha autoria, recebi ele por email e achei que deveria ser compartilhado, considerando a grande avalanche de comentários incitando a barbárie, ainda mais apos o acontecimento do "pelourinho", no qual um jovem assaltante, ou algo do tipo, foi preso em um poste, nu, por um grupo que se denominava "justiceiros". Acrescentemos a isso os comentários da repórter Rachel Shererazade e a sua campanha "adote um bandido". e estamos prontos a voltar a idade média.




Publicado por Luiz Flávio Gomes


"O termômetro da nossa insanidade coletiva, incluindo os setores radicais da mídia, está subindo, paralelamente à violência desbragada. Onde falta ética e educação de qualidade, ou seja, um bom IDH (índice de desenvolvimento humano), sobra a marcha tribal da insensatez. Em ano eleitoral, é de se imaginar que o clima quente da reação emotiva contra a violência, tal qual o do verão, vai bem longe. O Brasil continua na contramão da história civilizatória.

Está chegando a conta dos 514 anos de colonialismo teocrático (herança maldita), autoritarismo (arquétipo do Pai), parasitismo dos dominadores (escravidão, corrupção e neoescravidão), selvagerismo (violência epidêmica), ignorantismo (3/4 da população é analfabeta ou semialfabetizada – ver Inaf) e segregacionismo (apartheid sócio-étnico-econômico). Guerra de todos contra todos (Hobbes), que esquenta mais ainda quando bandidos das classes de cima passionalmente (Durkheim) se igualam à violência dos marginalizados perversos (por meio da justiça com as próprias mãos ou dos linchamentos, não autorizados pelo “contrato social”). De acordo com os indicadores socioeconômicos do Brasil, há um exército de milhões de jovens sem trabalho, sem estudo e sem estrutura familiar ou social solidificada (nem, nem, nem). São rejeitados por todos, até mesmo pela “ralé”, que é a classe D.

Nosso estágio de desigualdade socioeconômica (a melhora dos últimos anos foi totalmente insuficiente) e de degeneração moral coletiva chegou ao fundo do poço. Enquanto não rompermos a herança maldita da nossa estúpida, corrupta e violenta colonização, não vamos nunca sair desse atoleiro sanguinário e parasitário comandado pelas elites burguesas do capitalismo extrativista e selvagem. Só existe um caminho para a ruptura: ética e educação de qualidade para todos, tal como fizeram, depois de muita luta do povo, os países do elogiável capitalismo evoluído e distributivo (Dinamarca, Noruega, Suécia, Japão, Coreia do Sul etc.).


Educação civilizatória obrigatória, em período integral, promovendo-se assim, finalmente, nossa primeira grande revolução! Temos todos, ricos e pobres, o dever imperativo categórico (Kant) de levantar essa bandeira. Os 47 países com melhores IDH do mundo têm 1,8 assassinatos para cada 100 mil pessoas. O Brasil, com IDH ridículo para sua riqueza, é o 16º país mais violento do planeta, com 27,1 assassinatos, por 100 mil habitantes, em 2011. Enquanto não radicalizarmos no sentido da educação universal e da melhora substancial da renda per capita do povo que trabalha duramente, só resta ir contabilizando os “cadáveres antecipados”, a ira, o ódio, a insatisfação e a indignação massiva (que são os ingredientes de uma estrondosa revolução que ainda não ocorreu)."



O comentário da repórter citada:




E agora um questionamento final: Qual o melhor caminho? Se render aos apelos sensacionalistas da repórter, partir pra violência e responder com a mesma moeda, tornando a sociedade cada vez mais truculenta? Ou investir numa educação que liberte e proporcione caminhos?
O caminho da educação é o mais difícil e longo do que a resposta imediata e violenta, mas lembrem-se... Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Mudança

                 Quando fui convidado a contribuir para o blog “Uma Nova Casa”, a primeira pergunta que fiz foi sobre o que poderia escrever para o blog. Não com muita surpresa a dona da casa – agora já com dois novos inquilinos – se virou e me sorriu um afável “qualquer coisa”. Munindo o bom senso, decidi fazer aquela primeira sondagem. Aquela visita ao seu possível futuro imóvel, com direito a script e ritual que, com as especificidades de cada caso caminha mais ou menos assim: olhares desconfiados dos porteiros, um sorriso do tamanho do mundo dos corretores (com direito ao zelador como volante) e, nunca nos esqueçamos, a roleta russa dos vizinhos. Foi apenas com esse momento expedicionário é que, pouco a pouco tenho compreendido a que o simpático “qualquer coisa” tem se reportado afinal. Não é, e nunca houve dúvidas quanto a isso, a um desleixo quanto a produção postada. Também não diz respeito a uma leitura positiva e ressequida, rachada pela tão louvada (e tão mal utilizada) “imparcialidade” jornalística. Muito menos foi uma proposta a evasão hipertônica adolescente, como a anfitriã deixou aparente em seu primeiro post.
           Muito mais do que um convite a um “vamos escrever um blog”, fomos convidados – autores e leitores – a partilhar do que o filósofo nacional Mário Sérgio Cortella chama de “pamonhização das relações” que aqui – espero conseguirmos – se estende para todo aquele que se permita adentrar, ouvir e se fazer ouvir; a construir os laços de diálogo e afetividade que são fundamentais a qualquer relacionamento no qual nos engajemos com o outro. É um convite, sobretudo, a sentar na mesa da sala, cozinha, ou quarto e familiarmente se predispor a se expor enquanto indivíduo e pessoa integrante das mais variadas sociedades.
           Dadas essas observações vem a pergunta: e sobre o que uma família pode conversar, afinal? Em minha experiência pessoal, nem mais e nem menos do que este blog se propõe: tudo e todos. Da rede de trânsito da cidade de Belém – que parece continuar firme em sua tentativa de figurar como avatar do modelo indiano à questões ligadas aos mais diversos direitos, a imprescindível presença das artes enquanto elementos instigadores de reflexão dialética em nossas vidas e o parecer de todos aqueles que se permitirem participar e contribuir argumentando, brigando, concordando e, acima de tudo, convivendo conosco nos mais diversos cômodos da casa. Convidados fomos, autores e leitores, a nos expormos, a sonhar, a construir o presente e o futuro, o nosso futuro social e pessoal em cada debate, a cada sopro de poesia e nos inúmeros erros e acertos que nossa sociedade nacional-global enfrenta no cotidiano, mas que raramente se permite efetivamente ouvir e pensarem conjunto soluções e causas para o sonhado “desenvolvimento humano” em seus mais amplos sentidos.
          Por fim, já assinei o contrato e cá estou de malas e cuias, pronto pra discutir, me indignar, surpreender e bem querer aos que comigo se comprometerem a fazer mais do que sobreviver, suportar e se conformar com o outro, com a nossa realidade e com as limitações tênues do eu e do nós. Espero recebe-los em breve em nossa casa, a qual anseio que também vá se tornando sua para zelar e contribuir “Sangrando”, como bem diz a música.