segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Mudança

                 Quando fui convidado a contribuir para o blog “Uma Nova Casa”, a primeira pergunta que fiz foi sobre o que poderia escrever para o blog. Não com muita surpresa a dona da casa – agora já com dois novos inquilinos – se virou e me sorriu um afável “qualquer coisa”. Munindo o bom senso, decidi fazer aquela primeira sondagem. Aquela visita ao seu possível futuro imóvel, com direito a script e ritual que, com as especificidades de cada caso caminha mais ou menos assim: olhares desconfiados dos porteiros, um sorriso do tamanho do mundo dos corretores (com direito ao zelador como volante) e, nunca nos esqueçamos, a roleta russa dos vizinhos. Foi apenas com esse momento expedicionário é que, pouco a pouco tenho compreendido a que o simpático “qualquer coisa” tem se reportado afinal. Não é, e nunca houve dúvidas quanto a isso, a um desleixo quanto a produção postada. Também não diz respeito a uma leitura positiva e ressequida, rachada pela tão louvada (e tão mal utilizada) “imparcialidade” jornalística. Muito menos foi uma proposta a evasão hipertônica adolescente, como a anfitriã deixou aparente em seu primeiro post.
           Muito mais do que um convite a um “vamos escrever um blog”, fomos convidados – autores e leitores – a partilhar do que o filósofo nacional Mário Sérgio Cortella chama de “pamonhização das relações” que aqui – espero conseguirmos – se estende para todo aquele que se permita adentrar, ouvir e se fazer ouvir; a construir os laços de diálogo e afetividade que são fundamentais a qualquer relacionamento no qual nos engajemos com o outro. É um convite, sobretudo, a sentar na mesa da sala, cozinha, ou quarto e familiarmente se predispor a se expor enquanto indivíduo e pessoa integrante das mais variadas sociedades.
           Dadas essas observações vem a pergunta: e sobre o que uma família pode conversar, afinal? Em minha experiência pessoal, nem mais e nem menos do que este blog se propõe: tudo e todos. Da rede de trânsito da cidade de Belém – que parece continuar firme em sua tentativa de figurar como avatar do modelo indiano à questões ligadas aos mais diversos direitos, a imprescindível presença das artes enquanto elementos instigadores de reflexão dialética em nossas vidas e o parecer de todos aqueles que se permitirem participar e contribuir argumentando, brigando, concordando e, acima de tudo, convivendo conosco nos mais diversos cômodos da casa. Convidados fomos, autores e leitores, a nos expormos, a sonhar, a construir o presente e o futuro, o nosso futuro social e pessoal em cada debate, a cada sopro de poesia e nos inúmeros erros e acertos que nossa sociedade nacional-global enfrenta no cotidiano, mas que raramente se permite efetivamente ouvir e pensarem conjunto soluções e causas para o sonhado “desenvolvimento humano” em seus mais amplos sentidos.
          Por fim, já assinei o contrato e cá estou de malas e cuias, pronto pra discutir, me indignar, surpreender e bem querer aos que comigo se comprometerem a fazer mais do que sobreviver, suportar e se conformar com o outro, com a nossa realidade e com as limitações tênues do eu e do nós. Espero recebe-los em breve em nossa casa, a qual anseio que também vá se tornando sua para zelar e contribuir “Sangrando”, como bem diz a música.






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